Jesus e a Divina Providência

A Verdadeira Providência

Quando se trata de interpretar os acontecimentos do mundo, precisamos sempre contar com a causa do governo do mundo que é o próprio Deus. Nesse sentido, é a Providência Divina que zela pelo bom andamento da história.

Quando pensamos em tudo que já passamos na vida e como ainda temos que batalhar para conquistar os bens, materiais e espirituais, nos esquecemos de reconhecer a sua fonte verdadeira. É, por isso, que a Doutrina da Igreja nos ensina que tudo concorre para o bem daqueles que amam a Deus.

Tanto os bens materiais quanto os espirituais tem sua origem em Deus. No primeiro caso, de forma indireta, por meio justamente da Sua Providência, e no segundo caso, de modo mais direto com Suas Graças. Porém, também os bens materiais são de certa forma nossos apenas contingentemente. Pois sendo Deus o criador de todas as coisas, foi Ele quem deu o ser a cada um dos bens que possuímos. Por isso, somos dispensadores da Providência Divina, devendo nós utilizarmos os bens segundo a própria razão de ser deles.

A Propriedade Privada no Cerne da Confusão

Foi após o pecado original que a necessidade da propriedade privada se tornou evidente. Com o egoísmo dos homens e suas inclinações desordenadas, a propriedade privada aparece como um determinante dos limites do direito e do dever de cada pessoa. Sendo assim, a propriedade de bens passa a apontar para a distinção de perfeição entre os seres e torna mais claro a todos os efeitos dos atos feitos pelos homens bons e homens maus.

Mas é essa mesma desordem que retorna por meio de teorias como a regulação automática do mercado e, por outro lado, a eliminação da propriedade privada. Todas essas duas atentam contra a verdadeira Providência Divina. Explico.

Quando Adam Smith pressupõe uma ordem oriunda do caos das escolhas egoístas de cada pessoa, ele possui como plano de fundo uma ordem cosmológica panteísta. Como afirma Mueller, a partir de trechos da Teoria dos Sentimentos Morais, Smith reconhecia cada pessoa como um átomo que serve ao designo do todo na história. Sendo a própria natureza um ente no qual repousava o conhecimento e o sentido de cada elemento menor, chamado por ele de Átomo.

Por isso, as escolhas de cada pessoa, mesmo que viciosas, não passam de manifestações da determinação cósmica do todo. A razão do mercado regular a vida dos homens não é econômica, mas, antes, é em certo sentido religiosa.

Do mesmo modo, Karl Marx utiliza a propriedade privada como inimiga da história sendo ela vista por ele como um outro tipo de pecado original. Também ele afirma isso não por razões econômicas mas cosmológicas. Sua Cosmovisão de que a história é um contínuo progresso oriundo do choque de classes resulta necessariamente na restauração da propriedade.

Note que, nos dois casos, os dois fins parecem bons. No entanto, a causa do bem é obscura ou impessoal. No nosso caso, católicos, não. Nós sabemos a quem servimos e que servimos ao Senhor do Universo.

A Manifestação da Providência

Portanto, vejamos que Santo Tomás de Aquino afirma que a Providência Divina age sobre todos os seres. No entanto, aos justos lhes são dados bens espirituais especiais dada a conexão de Deus e seus filhos pela Graça.

Aos que se negam a participação da Vontade Divina, a Sua Providência age como aos demais seres, por meio dos acontecimentos da história. Assim se diz na Escritura:

pois ele [o Pai do céu] faz nascer o sol tanto sobre os maus como sobre os bons, e faz chover sobre os justos e sobre os injustos. (Mt 5, 45)

Mas em outra passagem diz:

Se vós, pois, sendo maus, sabeis dar boas coisas a vossos filhos, quanto mais vosso Pai celestial dará o Espírito Santo aos que lhe pedirem”. Assim, está demonstrado a especialidade dos acontecimentos aos filhos de Deus reconhecendo que “tudo concorre para o bem daqueles que amam a Deus.
(Lc 11,12)

Conclusão

Sendo Deus o criador de todas as coisas, não é apenas lícito, mas também, desejável que recorramos a Ele nas nossas necessidades. Ademais, é ilícito que creiamos em outro dispensador de bens como o mercado ou o estado na busca pelos meios deste mundo. Tanto o mercado quanto o estado são instrumentos utilizados para a ordenação da sociedade para o fim último que é a Salvação das Almas.

Filipe Dalboni

Mestrando em economia que sonha em contribuir na construção de uma economia realista voltada ao Bem Comum.

1 comments

  1. Luana Ventura Dutra

    Excelente texto, Fil! Tenho certeza que seu apostolado trará luz para os pensamentos de muitas pessoas!

    “Não sabemos do amanhã senão uma coisa: a providência se levantará para nós antes do amanhecer”

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