Precisamos falar que a nossa sociedade atual está doente.
Como uma nova torre de babel, erguemos altos prédios, trocamos a terra por asfalto, nos aglomeramos de tal modo a aumentar a nossa distância social. Parte disso faz parte da civilização, mas e quando exageramos. O modo como a nossa economia se desenvolveu, principalmente nos últimos 2 séculos, possibilitou o que se chamou de ganhos de escala, isto é, a aglomeração de fatores de produção que aumentassem a produtividade.
Para possibilitar isso, foram construídos estradas, complexos industriais, prédios, entre outras soluções. Tudo isso em nome da eficiência econômica. No entanto, há um problema nisso tudo. Nenhuma dessas soluções favorece uma vida em família!
A aglomeração econômica produziu uma rotina de trabalhos distantes, muito tempo longe de casa, vias cada vez mais aceleradas para os transportes, enquanto à família sobraram poucos m² de apartamentos, um playground (paga-se caro, quando há) e poucas praças geridas por uma gestão pública claudicante. De fato, o racional econômico gira em torno do dinheiro. Como a família não é monetizada (ainda), todas as soluções tem como objetivo aumentar a eficiência e a sobrevivência das atividades que possuem fluxo de caixa.
Recapitulemos o que foi dito: os aglomerados econômicos (industriais e serviços, principalmente) servem para facilitar o comércio e o consumo de itens complementares. As vias aceleradas servem justamente para, dado o aumento de pessoas na busca por dinheiro, conectar de modo mais eficiente as moradias aos centros econômicos da cidade. Os prédios servem para aumentar ao mesmo tempo tanto a capacidade de moradias próximas a esses centros quanto o retorno monetário dos imóveis localizados ali.
Por fim, temos a formação de cidades com centros econômicos, áreas caras próximas a essas regiões ou em condomínios de pessoas ricas o suficiente para bloquear esse movimento, prédios de classe média com cada vez menos espaço em seus apartamentos e subúrbios que cresceram rapidamente e desorganizadamente que ocupam regiões ainda não valorizadas.
Alguém poderia dizer: “Ah mas isso atesta o êxito do capitalismo. As pessoas seguem querendo ir para esses locais”.
Não se nega que as cidades atuais possuem um padrão de vida superior para a classe média, há muitos divertimentos diferentes e acessos a novas tecnologias na área da saúde, por exemplo. O ponto central é que isso não basta para formar uma civilização. Se é necessário que as famílias sejam cada vez mais escanteadas para dar espaço às atividades produtivas, essa mesma sociedade materialmente avançada estará fadada à decadência.
É nesse contexto que o livro de Vincent McNabb, A Igreja e a Terra, se insere muito bem. No início do século XX, ele afirmará que o impulso moderno de liberdade conduzirá à degeneração da sociedade através do neomalthusianismo e exaltará o progresso material do homem. Dito e feito.
Há um motor por trás de todo esse movimento de aglomeração que será abordado em outro momento. Por hora, é preciso dizer que o desafio está em relembrar que o homem é um ser natural, não artificial. Sua função de artífice está para elevar o espírito humano em harmonia com a criação, de modo a preservar os elementos naturais e a natureza sociável do homem (família + comunidade).