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O que é Riqueza Simbólica e por que se preocupar com ela?

Aristóteles chama economia a busca pelas riquezas e a primeira distinção que ele faz é que o dinheiro não é verdadeira riqueza. A busca pelo dinheiro é chamada de arte numulária que possui um raciocínio matemático (quantitativo) e que não possui um fim em si mesmo pela própria definição do que seja uma moeda.

O problema é que, por ser quantitativa, ela pode crescer até o infinito. Seja possuindo 10 unidades monetárias ou 1 trilhão, ainda há um imenso caminho pela frente. Isso conduz o homem ao vício da avareza.

Não apenas isso, ele afirma que a condução das demais atitudes humanas para a obtenção de riqueza impede a aquisição da virtude mesma. Significa dizer que conduzir nossas ações diariamente com o objetivo único e principal de aumentar o montante de moeda não é virtude, nem contribui para ela.

A estudiosidade, por exemplo, a capacidade de regular a atenção para a obtenção do conhecimento, quando movida primariamente para a obtenção de dinheiro afasta o homem da contemplação. Sendo bem prático: sabe quando influencers tomam certa postura como quem diz “preciso aprender isso porque é onde está o dinheiro”? Nesses casos, embora possa haver motivo justo como a sustentação emergencial da família, não conduz à virtude. Conduz, na verdade, à vida desordenada e aos seus efeitos morais e psicológicos.

É seguindo essa teoria que Vincent McNabb, em a Igreja e a Terra, denuncia a sociedade industrial como tendo como objetivo a obtenção de riqueza simbólica. Segundo ele, as formas como nossas cidades, instituições e famílias estão organizadas tem como objetivo principal aumentar o montante de riqueza simbólica, isto é, dinheiro.

Para isso, todos os outros órgãos sociais (ex: judiciário, legislativo, executivo, instituições de saúde e educação) devem buscar adquirir dos seus usuários o máximo de riqueza simbólica possível. Mas há um problema nisso tudo, quem produz a riqueza simbólica?

Richard Werner, um economista que eu acompanho, comenta recorrentemente sobre o poder bancário de mover a economia. Para ele, os bancos possuem um poder totalmente arbitrário: criar moeda. Esse poder atualmente é dado pelo Estado, de modo que criar crédito e cobrar juros por aquilo só é permitido após uma licença governamental — não estou defendendo a liberalização do mercado de crédito a juros.

O banco cria moeda? Sim. Tendo como propriedade os depósitos bancários — que você acha que são seus —, o banco adiciona ao seu balanço contábil o empréstimo dado a cada indivíduo inserindo uma nova quantia em de um lado do balanço e uma obrigação de entregar esse dinheiro do outro lado. Isso faz com que seja criada nova moeda.

Mas para além desse dinheiro, surge uma necessidade de pagamento de juros sobre a moeda criada. Nesse movimento, a sociedade passa a estar sempre em divida em relação ao futuro, mesmo que não se saiba.

Isso força as empresas e sempre necessitarem de expansão, a fim de pagar os juros e retornar algum lucro. Isso força os Estados a gastarem mais uma vez que a fluxo concentrado de crédito e o aquecimento econômico eleva a desigualdade, através do aumento dos custos relativos entre o que é consumido pelo mais pobre e o mais rico, bem como pela aparente maior capacidade de tributação.

Nessa disputa para ver quem é melhor na arte numulária, a família numerosa se vê em desvantagem. Tendo que viver para a economia real, aquisição de bens que tem como objetivo a busca da virtude, muitas vezes seus movimentos destoam do que é necessário no momento para acumular mais riqueza.

É esse o movimento que percebemos hoje e que McNabb já denunciava no início do movimento industrialista. Quais são as coisas que o pai de família mais precisa adquirir? Uma casa, que é um ativo com fluxo de caixa negativo, isto é, embora valorize ao longo do tempo, ano após ano há uma saída de dinheiro pois é necessário pagar impostos e manutenções. Comida e vestuário, que são literalmente bens de consumo. Educação, que se concretiza como aumento nos rendimentos monetários familiar apenas depois mais de uma década de custos com educação. Saúde, que apenas serve indiretamente para aumentar os custos monetários, que é quando precisamos nos recuperar ou agir preventivamente para não ficarmos doentes.

Em todos esses itens, o pai de família se sente obrigado a abdicar da busca pela contemplação para praticar a arte numulária. No melhor dos mundos, ele ganha o suficiente para manter a sua esposa em casa cuidando dos filhos.

Em A Igreja e a Terra, Vincent McNabb propõe que toda métrica econômica deve girar ao redor das condições familiar. Qual a capacidade da família média de adquirir esses bens necessários à vida familiar? Ele concluirá que a economia atual é moldada para relegar à segundo plano esse objetivo econômico e moral, por isso a sociedade moderna recorrerá ao neomalthusianismo.

Lembra do que foi dito sobre a arte numulária ter um raciocínio matemático? Em superação a ela, está a prudência que é um julgamento que engloba todas essas ações econômicas no plano de vida superior e, finalmente, conduz a arte numulária à economia e a economia à contemplação. A solução, portanto, é fugir à regra atual aplicando essa ordenação que, para ele, é melhor realizada na zona rural.

Embora hoje as condições de se ater às coisas primeiras não sejam mais tão diferentes entre o campo e a zona urbana, já que a tecnologia encurtou as distâncias de deslocamento e informação entre a zona rural e urbana, ainda permanece a possibilidade de sustentar certa condição familiar no campo. Seja essa uma realidade para cada um de nós ou não, o diagnóstico é preciso e os princípios de solução também o são.

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Filipe Dalboni

Mestre em economia que sonha em contribuir na construção de uma economia realista voltada ao Bem Comum.

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